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A Casa Rosada de Lenzini e Drioli

Enfim, chegou o dia esperado por todos os amantes das belas artes de Belém e, por que não, domundo: restaurada com a cooperação técnica do Fórum Landi, desde 2007, a Casa Rosadaenfim abriu suas portas ao grande público, na manhã da última quinta.

A celebração fechou as atividades do Momento Itália-Brasil e contou com a ilustre presença doEmbaixador italiano no Brasil, Gherardo La Francesca, pra quem é fundamental a valorizaçãodo patrimônio histórico e cultural: “A gente precisa valorizar o que foi criado nos séculospassados. Isso é importantíssimo, por isso eu estou muito contente de estar aqui nessainauguração, parte do Momento Itália-Brasil e, com certeza, um dos mais importantes, porqueos eventos podem ser maravilhosos, mas um concerto dura um dia, uma exposição durasemanas, mas o que estamos inaugurando hoje é uma realização permanente, que vai produzir,que vai estimular atividades importantes pra cultura do Brasil e da Itália”.

O Coordenador do Fórum Landi e Pró-Reitor de Relações Internacionais da UFPA, Prof. FlávioNassar, transbordava orgulho ao apresentar a novíssima Sala Bolonha: “A idéia era juntarelementos clássicos da quadratura, mas, depois, começar a fazer algumas citações da obra deLandi. A cortina, por exemplo, é um elemento que está presente na quadratura que ele haviafeito na Igreja de Santana de Mariuá, que ficava no alto Rio Negro, mas não existe mais. Ascolunas torcidas são também uma citação à antiga catedral de Belém, que o Landi construiu eque foi, depois, mudada com a reforma da catedral”.

Nassar destacou a pesquisa feita junto aos pintores italianos Pietro Lenzini e Giorgio Drioli naprodução das quadraturas ilusionistas, depois adornadas com fauna e flora locais: “As plantastodas foram feitas baseadas em pesquisas e com elementos da nossa cultura. Temos aqui aEspada de São Jorge e o Comigo-ninguém-pode, plantas que na cultura popular protegem osambientes, a revoada de urubus que acontece no Ver-o-Peso. Houve um concurso pra escolher,na internet, os periquitos que deveriam estar aqui, é todo um modelo de participação. Foi umgrande presente que Belém ganhou, acho que foi um marco”.

ENTREVISTA: PIETRO LENZINI & GIORGIO DRIOLI

Pietro Lenzini nasceu em Bondeno, no ano de 1947. Depois dos estudos na Academia de BelasArtes, trabalhou na decoração do Teatro Municipal de Bolonha. Dedicou-se à prática da incisãodesde o fim dos anos 70 e, contemporaneamente, à atividade pictórica. Fez diversas exposiçõesna Itália e exterior: Roma, Firenze, Bilbao, Salamanca etc. Desde 1979, é docente deCenotécnica na Academia de Belle Arti di Bologna, onde também leciona Teoria e Prática doDesenho Prospectivo. Além da produção pictórica e cenográfica, desenvolve uma constantepesquisa teórica sobre temática teatral, publicada em revistas especializadas e conferências.

Giorgio Drioli, por sua vez, nasceu em Roma, no ano de 1969. Pintor e cenógrafo, é formado naAcademia de Belas Artes de Bolonha. Freqüentou cursos de Cenografia Cinematográfica e Televisiva em Skelleftea, na Suécia, e na Escola de Arte de Utrecht, na Holanda. Temexperiência em atividade teatral no âmbito da lírica e da prosa. Trabalhou no Teatro Municipalde Bolonha e, entre as várias atividades, destaca sua participação no Festival de Música deLondrina, no Paraná, com o Teatro Potlach, em 2000. Colaborou com Pietro Lenzini emdiversas intervenções decorativas em empreendimentos públicos e privados. Acompanha cominteresse a atividade experimental “teatro dos lugares”.

Abaixo, entrevista exclusiva com Lenzini e Drioli, responsáveis pela nova Sala Bolonha,concedida especialmente à equipe do Fórum Landi:

Vocês estudaram na Academia de Belas Artes de Bolonha, onde Landi foi aluno e professor.Qual foi a influência do arquiteto no trabalho de vocês?

Drioli: O que me inspira, em Landi, além de seu estilo pessoal, são o ritmo e peso visual de cadaelemento decorativo e arquitetônico em seus projetos. Uma harmonia é vista nesses elementos esua relação espacial, aonde a força expressiva do conjunto prevalece sobre partes individuais.

Lenzini: Landi é formado pela escola de Ferdinando Galli Bibiena, arquiteto e famosoprospectivo, professor da Accademia Clementina di Bologna; portanto, aprendeu a grande liçãode perspectiva como forma de ilusão, aplicada à cenografia e à decoração quadraturistica. Noprojeto pra Casa Rosada, por conta disto, procuramos ter em mente o conceito de ilusionismoatravés das imagens arquitetônicas pintadas nas paredes, mudando a percepção do espaço real,traduzido em uma cena total.

Drioli: No projeto do Lenzini, o marmoreio falso por detrás da pintura é repetido acima doquadro, como uma conexão real entre a parede e o teto, aonde a intenção é justamente criar umlink, uma ponte que dá continuidade às paredes, mas que também pode ser pensado como umelemento distinto entre os demais. Também a vegetação parte do fundo e vai além do marmoreiosuperior. Nesta busca por harmonia e poder de envolver o espectador, penso, pode-se identificara influência de Landi. É bom notar também a composição em espiral do vôo do urubu. Além disso, ele havia pensado com a família Barale em criar um acompanhamento musical praenvolver ainda mais o espectador adentro dos corredores pintados da Casa Rosada.

E com relação à Amazônia? A proposta elaborada pelo Prof. Flávio Nassar pro projeto dasquadraturas na Casa Rosada é uma mistura das tradições européias com aspectos da culturaamazônica. Como foi feita a pesquisa pra realização do projeto?

Lenzini: Queríamos projetar um tipo de reunião entre a fixação quadraturistica e a recuperaçãoambiente da flora amazônica, onde a vegetação rica, projetada em determinado lugar, permitisseque fosse criada uma ilusão da natureza anulando a ortogonalidade das paredes atrás de umafalsa balaustrada de mármore, que se repete também em sua volta a céu aberto.

Drioli: A pesquisa vem de um estudo cuidadoso das obras de Landi em Belém e, sobretudo, daflora local, que conhecemos graças aos passeios na companhia de Flavio Nassar. Tambémviajamos pelo interior da floresta amazônica, o que contribuiu significativamente pro projeto. Naverdade, o projeto do Lenzini – pintura total das paredes e tetos – passou por muitas mudançase ajustes relativos ao projeto inicial, ainda em andamento.

Vocês também usaram pigmentos da região, como o urucum. Como surgiu a idéia de utilizarrecursos locais e quais foram suas vantagens?

Drioli: Sim, há uma borboleta pintada com urucum. É como uma “face” que se formou poracaso; são elementos que passaram a fazer parte do trabalho, eu diria que inesperadamente.Também houve a escolha de alguns pássaros nativos, devido ao concurso iniciado no blog doFórum Landi. Estas peculiaridades criam um certo mistério e cumplicidade, são coisas que só quem participou tem conhecimento.

Lenzini: Como que pra cimentar a relação entre o artificial e a natureza.

Fonte: Fórum Landi - Online

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